domingo, 11 de novembro de 2007

Entrevista - Gilberto Martins

Antonio Gilberto Martins da Costa, economista, contador, especialista em Gestão Pública Municipal e também em Administração Hospitalar, é professor universitário (ensina a cadeira de Contabilidade Pública na Faculdade Mater Christi), atua como consultor da área de planejamento estratégico e gestão pública. Exerceu dois mandatos de vereador no período de 1989/1992 e 1993/1996. Elegeu-se prefeito de Governador Dix-sept Rosado duas vezes, administrando o município de 1996 a 2004. Deixou como sucessora na prefeitura, a sua até então vice-prefeita Lanice Ferreira. Casado com Aisa, e pai de Iana, Jéssica e Matheus, ele se define como um dixseptiense de coração. Considerado um dos maiores estrategistas políticos do município e região, ele divide opiniões e faz das suas decisões motivos de receio e respeito entre os seus. Querido e temido, Gilberto é um homem público que marca a história local com a deferência dos amigos e a apreensão exasperada dos adversários políticos. Há quem diga que ele é unanimidade quando o assunto é liderança política, assunto que ele prefere ouvir opiniões. Por duas horas e meia, na noite dessa segunda-feira (29/10), Gilberto falou para o jornal Folha do Povo, exclusivamente sobre política (a seu pedido):

FP – Como você avalia a atual administração?
GM – O governo Adail Vale não tem um rumo certo. Vê-se claramente que não há o mínimo de planejamento ou coordenação. Parece que ninguém ali sabe onde quer chegar. Eles estão perdidos. Não há nenhum resultado positivo em área nenhuma. Mais uma vez, estão conseguindo sucatear a estrutura pública municipal. Desde que voltaram à prefeitura tudo regrediu. Não houve avanço em nenhum setor. Na verdade, estamos vivendo um retrocesso social, político e econômico em Governador Dix-sept.

FP – Que áreas você acha que foram mais afetadas pelo atual desgoverno?
GM – As áreas sociais e de infra-estrutura.

FP - Por quê?
GM – Por que nota-se que falta autonomia para os secretários e falta também planejamento para orientar quais são os objetivos a serem alcançados pela sua equipe. Sem autonomia e sem objetivos definidos é impossível sair do lugar. Outra área bastante prejudicada, talvez a mais prejudicada, é o meio ambiente. Tudo que a nossa administração conseguiu fazer de positivo nessa área, o que nos tornou um exemplo para o estado em termos de preservação e consciência ambiental, tudo o que havia de bom e positivo, foi totalmente desmontado.

FP – E com relação à equipe da atual gestão... com relação a sua capacidade de realização, o que você comentaria?
GM – A maior responsabilidade de um líder é escolher a sua equipe. Então, se os secretários são inaptos para assumir suas funções não é por culpa deles; a falha é de quem os escolheu.

FP – Sobre a possibilidade de você candidatar-se a prefeito nas próximas eleições. Existem boatos que você colocaria seu um nome para o partido ...
GM – O meu partido, o PMDB, já tem um nome para vencer as eleições do próximo ano. Lanice Ferreira será a nossa prefeita. Mas, se houvesse a necessidade meu nome estaria à disposição.

FP – Com relação as suas pretensões políticas para 2008?
GM – Nosso objetivo é retomar o poder municipal, devolver ao povo o que dele foi tirado. Precisamos fazer com que Governador Dix-sept volte a ter paz, a ter desenvolvimento e alegria. A mesma paz e alegria que sentia até março de 2005.

FP – Lanice Ferreira é a pessoa que pode proporcionar a paz e a alegria à população?
GM – Lanice Ferreira é a pessoa que o povo gostaria que retornasse à cadeira de prefeito.

FP – Qual sua opinião sobre a atuação dos atuais vereadores? Generalizando, como está a atuação do legislativo municipal?
GM – Na Câmara Municipal predomina o jogo de interesse pessoal. Prevalece apenas a opinião do presidente. É na verdade um quadro de ditadura. Mas o que se pode esperar dessa gente? Eu destacaria a atuação dos vereadores Sanimarcos, que tem sido corajoso, e Bonifácio, que permanece leal aos seus amigos, e de Sula do PT, que resiste a ofertas impublicáveis no momento e se mantém fiel aos seus eleitores e ao seu partido. É lamentável, mas os poderes deveriam ser harmônicos e independentes, o executivo e o legislativo se misturam, fazendo uma ‘montaria’ e não uma parceria.

FP – Sobre a possível candidatura do presidente da Câmara Municipal, vereador Anaximandro Vale, você acredita que ele vai ser o candidato da atual administração?
GM – Não, não acredito.

FP – Ele teria chances? Quem teria mais chances: o pai ou o filho?
GM – Qualquer um dos dois será derrotado fragorosamente. Os dois têm o mesmo desgaste e rejeição. Então, o grau de dificuldade de um ou outro para as próximas eleições é o mesmo.

FP – Você falou em grau de dificuldade para as próximas eleições...
GM – Em qualquer eleição, eles teriam a mesma dificuldade para vencer ...

FP – Para você, existe alguma diferença entre o perfil de gestão e político entre pai e filho?
GM – O filho tem demonstrado na atual gestão da Câmara ser mais radical do que o pai.

FP – Qual o grau de dificuldade de sua candidata, Lanice Ferreira, em vencer o atual prefeito? Se você pudesse opinar sobre um provável cenário da próxima campanha, quais os percentuais de votos?
GM – Lanice 60%, Adail 30%

FP – Então Adail perdeu votos, desde a última eleição?
GM – Sim, mas pode ter compensado também.

FP – Compensado o que?
GM – A perda de votos. Com a ida de alguns.

FP – Com a ida de quem?
GM – Os vereadores Edimar Carlos, Adonias Melo, Neto Dantas, entre outros.

FP – Então, Adail poderia ter tido um ganho político com a adesão desses vereadores?
GM – Claro. Tem uma parte dos parentes desses políticos que acaba acompanhando eles. Mesmo sendo uma posição de desgaste.

FP – Sobre a situação financeira da Prefeitura, comenta-se que ela não é das melhores, e que o atual prefeito não está tão a vontade para governar...
GM – Eu acredito que ele está escondendo o jogo. Não é possível que ele tenha desestruturado o município a esse ponto. Dix-sept Rosado tem uma folha de pagamento que gira em torno de R$ 400 mil, e uma receita que pode chegar a 1 milhão e 400 mil. Ele está do lado da governadora Wilma, tem recebido muitas ajudas dela e o governo federal tem sido um parceiro importante para os municípios. Há mais de dois anos, o município não constrói uma obra importante, na dá para acreditar em dificuldade financeira. Se não paga é por outros motivos, não é falta de dinheiro.

FP – Então o que seria? Uma tática, uma estratégia do prefeito?
GM – Quem sabe? Talvez detonar um programa de obras no ano eleitoral para impressionar o povo... Ou fazer caixa para o ano que vem.

FP – Você acredita que ele possa usar desse expediente na próxima campanha?
GM – Ele vai usar todas as armas, como sempre fez.

FP – Então, o que o seu partido, o PMDB, vai usar para enfrentar uma possível “compra de votos” na próxima eleição?
GM – Vamos usar a inteligência do povo.

FP – Como assim?
GM – O povo sempre enfrentou este tipo de expediente, mas em relação a cargos majoritários, em Dix-Sept Rosado não tem funcionado... O povo vota em quem quer. Isso já foi provado. Vamos mostrar nossas propostas de governo. O povo sabe o quanto está sofrendo sem o governo do PMDB. O governo não chega à casa do cidadão.

FP - Qual vai ser sua participação na próxima eleição, junto a Lanice? Será incondicional? Força total?
GM – Esta será a eleição de nossas vidas. Vamos com tudo. Eu posso contribuir com minha liderança, com o conhecimento que tenho dentro e fora do município, com idéias, com discurso, e com minha participação ao lado de Lanice.

FP – Você falou que essa próxima eleição será vital: “a eleição de nossas vidas”... Qual a diferença dessa eleição para a eleição de 2000, e para eleição de 1996?
GM - É pelo grau de dificuldade...

FP - Essa será mais difícil?
GM - É por que a próxima batalha é sempre a mais interessante.

FP - Mais interessante, ou mais difícil?
GM - Mais interessante.

FP – Em que sentido? Por que mais interessante?
GM - Nós fomos cassados, acusados de ter comprado votos, que ganhamos porque tínhamos a máquina e de repente temos a oportunidade de provar que tudo isso não é verdade... Ganhamos porque o povo votou no que considera o melhor para o município.

FP – É a revanche do povo? A volta por cima?
GM – Claro, amigo!

FP – O que você teria feito diferente se pudesse voltar ao começo da campanha de 2003?
GM - Teria concentrado algumas coisas em minhas mãos. Sobre o meu comando.

FP - Que coisas?
GM - Questões de comando, de liderança.

FP - Sobre a sua situação depois da cassação... Você falou que estava pagando um preço muito alto... explique?
GM - Na justiça... somente.

FP - Você acha que foi traído por alguém, naquele momento?
GM – Não. As pessoas que agiram não se esconderam... Elas agiram articuladamente. Elas foram insistentes.

FP - Foi um complô?
GM - É talvez seja isso mesmo um complô.

FP - Quem foi insistente?
GM - Chico Carlos e Zé Carlos

FP - Foram eles os "arquitetos da cassação"?
GM – Claro. Ninguém tem dúvidas disto!

FP - Você tem receio, que depois de uma eventual vitória em 2008, isso pudesse acontecer novamente?
GM - De forma nenhuma... um raio não pode cair no mesmo lugar duas vezes. Seria azar demais.

FP - Então, a cassação foi um erro, azar, ou a atuação de Chico Carlos e Zé Carlos?
GM - Começou pela atuação deles.. depois teve um somatório de coisas negativas juntas.

FP – Na sua opinião, o que poderia fazer com que Lanice perdesse as próximas eleições?
GM - Só se ela pedisse votos para o adversário dela... e de joelhos (risos). Seria necessário um trem de erros para que isso acontecesse.

FP - Com relação aos vereadores que estavam no PMDB (Adonias, Neto Dantas, Edmar, Dário)... Qual a sua opinião sobre a saída deles? Teria algo para comentar sobre isso? Sobre a saída deles para o partido do prefeito, para base governista...
GM - Nós procuramos compensar a saída desses nomes com a vinda da família Bacatela (Firmino), que têm sido amigos leais, nossos e do povo. Dr. Tarcísio, Damião e Tidoca estão no PMDB para compensar qualquer baixa. Existem outros nomes fortes que também estão somando conosco neste momento.

FP – Os vereadores que aderiram se reelegerão?
GM - Eles acreditam na estrutura do poder e no vil metal. Vamos aguardar o julgamento do povo. De qualquer forma eles vão ter que explicar esta saída repentina ao povo.

FP - Você acredita no surgimento de um terceiro grupo político, para a disputa da próxima eleição?
GM - O PT está estudando o cenário. O PDT é improvável, não tem fôlego para uma eleição.

FP - Você acha que Chico Carlos e Zé Carlos, apoiarão o prefeito?
GM - Eles não têm outra opção.

FP – Por quê?
GM - Porque os compromissos assumidos são muito profundos... Eles estão vinculados demais. A força atrativa do poder não permite um distanciamento. Agora existem também as questões fisiológicas. Fisiológicas mesmo.

FP - Fisiológicas?
GM - Lembra da Hierarquia das Necessidades?

FP - De Maslow? Lembro sim!
GM – Dele mesmo.

Ps. Abraham Maslow foi um psicólogo americano que escreveu sobre a Hierarquia das Necessidades. Para saber mais, clique aqui.

FP - Se você pudesse resumir uma característica positiva e outra negativa dos seguintes nomes, o que você me diria sobre: Chico Carlos?
GM - Ele não se esconde... Assume o que faz.

FP – E uma característica negativa?
GM – Ele acha que a cadeira de prefeito só serve para ele.

FP – E sobre Adail Vale?
GM – Ele não nasceu para a política. É centralizador demais. Está ultrapassado.

FP – E uma qualidade?
GM – (Risos)

FP – Fale então sobre Nelson Morais.
GM – Ele é correto com os amigos dele. Mas não tem sido muito feliz em certas escolhas.

FP – E Lanice Ferreira?
GM – Uma mulher de fibra, muito trabalhadora.

FP - Que decisão, você tomou, que não tomaria se pudesse voltar no tempo?
GM - Eu valorizei demais algumas pessoas que pensava que fossem amigas de verdade. Honrei demais a quem não merecia honra.

FP - Eu conheço essas pessoas? Você pode citar nomes?
GM – Claro, você tem o desprazer de vê-las de vez em quando (risos). Na campanha você vai saber quem são elas.

FP - O que diria hoje as pessoas que votaram em você, nas ultimas eleições, que acompanharam seus candidatos... O que diria hoje a elas?
GM - Eu só tenho a agradecer tanta confiança e entusiasmo, tanto carinho que tenho recebido do povo. Muito obrigado por tudo. Deus é quem pode retribuir a cada um por todos os gestos.

FP – E por último, com relação ao sonho do Palácio José Augusto (Assembléia Legislativa)?
GM - Ficou um pouco distante. Mas, como seria triste a escuridão da noite se não fosse o brilho inatingível das estrelas...

Um comentário:

Anônimo disse...

Valeu pela iniciativa de postar entrevistas. Sou dix-septiense mas resido em Patos (PB). Li a entrevista com o ex-prefeito e me chamou atenção quando ele disse: "A maior responsabilidade de um líder é escolher a sua equipe. Então, se os secretários são inaptos para assumir suas funções não é por culpa deles; a falha é de quem os escolheu". ~Ele não poderia dizer isso, uma vez que o seu secretário de saúde, "chico velho", era marceneiro por profissão. Foi indicado para o cargo porque era seu cunhado. É o que eu ouvi dizer. De resto, a entrevista foi mto boa e parabéns pela iniciativa.